Viagem só termina quando acaba
Saímos de Miranorte por volta de 8:40h. Nosso objetivo era dormir em Presidente Dutra e, no dia seguinte, chegar até meio-dia em São Luís. O trecho da BR-153 era bastante bom, o que nos permitiu imprimir um bom ritmo. Depois de rodarmos uns 200 km e as placas anunciarem a cidade de Araguaina mais à frente, ocorreu-me uma ideia mirabolante. Entrei em contato com Geovan pelo intercomunicador e anunciei: já que estávamos tão próximos, por que não damos um pulo em Carolina e aproveitamos e tomamos um belo banho revigorante de cachoeira? Geovan titubeou, não concordando com a ideia, já que estava doido pra chegar. Insisti mais um pouco e ele fez silêncio. Esperei pela resposta que não vinha, mas pronto pra respeitar sua decisão. Afinal, viajávamos juntos e o roteiro original não era este.
Torci para que a decisão fosse positiva e já me via debaixo daquela cachoeira maravilhosa, matando o calor intenso que nos acompanhava há algum tempo. Vamos, disse ele finalmente. Imediatamente programei o GPS pra buscar por Filadélfia, cidade tocantina do outro lado do rio. Era só pegar a balsa do PIPES e já estaríamos em Carolina. Tivemos que atravessar Araguaina até pegarmos a TO-222. Foram pouco mais de 90 km até Filadélfia por uma rodovia com alguns buracos desviáveis, que não comprometeram a viagem. Quando chegamos, o pontão, como eu o conhecia, parece que estava nos esperando. Pagamos R$ 8,00 por moto e embarcamos.
De longe, avistei o campanário da igreja matriz que ficava no final da rua onde morava. Lembro que nos tempos de criança a nossa diversão era jogar futebol na porta da igreja. Era uma piçarra braba que, quase sempre, nos provocava calos de sangue nos pés. Era a nossa diversão todas as noites, iluminados por um poste central que mal dava para ver o vulto da bola. Éramos felizes e sabíamos. Bons tempos.
Descemos do pontão e fomos direto pra casa de um amigo fazer uma visita.
Depois, tomamos o rumo de Pedra Caída, uma cachoeira lindíssima que conheci pela primeira vez quando tinha 11 anos de idade, quando viemos morar em Carolina. A ideia era somente tomar um banho e seguir adiante pra dormir em Presidente Dutra, como originalmente programado. Quando chegamos, fui logo me descascando, tirando a roupa pesada e vestindo um short e camiseta. Geovan só me observava. De repente, ele diz: cara, to enfadado e com sono, vamos dormir logo aqui. Pra mim foi perfeito. Dava pra ir na cachoeira sem pressa e dar uma relaxada. Afinal, a viagem só termina quando acaba.
O próximo guia para o santuário, como é conhecida a famosa cachoeira, saía às 15:00h. Eu já estava no ponto. Seguimos pelas trilhas erguidas em plataformas de madeira até a rampa que desce para o início do percurso ao santuário. Lembrei que, em 1977, quando fui pela primeira vez, fazíamos o percurso sem guia especializado algum e descíamos o íngrime paredão de forma bem rústica. Bons tempos.
No final da descida, uma parada pra admirar a natureza e refrescar nas pequenas quedas d'Água. Um aperitivo do que estava por vir.
Primeira parada pra refrescar
Prosseguimos para o santuário pelas plataformas construídas pela modernidade. Nos tempos de criança, íamos desbravando o caminho por entre pedras e seguindo o riacho que vinha da cachoeira. Ao nos aproximarmos do santuário, os paredões de pedra ficavam mais espetaculares e quase impediam a entrada do sol. O caminho ficava mais escuro e o som da cachoeira batendo na água nos seus mais de 126 metros de queda, faz assustar quem vem pela primeira vez. Foi este o sentimento que tive há quase 40 anos.
O santuário é fascinante. Uma enorme queda d'àgua explodindo em um pequeno lago circundado por paredões de pedra. É como se estivéssemos em um salão e, acima, a pequena claridade do sol que timidamente invadia o ambiente.
No salão do santuário
Ao voltar, fui pra piscina, pedi um tira-gosto de carne de sol, algumas latinhas de cerveja e esperei o sol se por pra admirá-lo.
Bem, amanhã, acho que chegaremos em casa.
Até lá.
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